Atuação

Sobre ser Interprete no sistema 25
                               por Will Cruz
           
Quando fui convidado a primeira sensação foi de lisonja (eu um ator temporão, tão longe dos agitos e do comum dos dias da cena local); depois foi uma instigação só, dado o desafio de construir por caminhos incomuns um espetáculo que se propunha a ser algo ainda nunca feito por todos nós.

Por um ano de fins de semana e de noites regadas a experimentos, leituras, investigações, e sobretudo, a apreensão de tantas personalidades outras... Vinte e quatro outros mundos (que depois se tornaram mais), que se predispunham a compartilhar um mesmo lugar; me ofereci a este jogo de criar uma unidade feita de tantos diversos.

O frágil interprete que me sinto (insegurança é meu nome, mesmo diante do aplauso catártico da audiência), vivo tateando no escuro na certeza de que ainda não está bom o suficiente; fisgando imagens, comovendo-me, pedindo vênia... Neste labirinto de um sem fim de referências, meu maior trabalho tem sido desconstruir tudo quem sou, e todos os outros Eus que antes construí; a cena me cobra deixar de Ser. Tanto que em apenas cinco por cento do tempo tenho identidade, todo o restante estou mergulhado numa ausência que me iguala a massa borbulhante de presos. E é justamente aí que encontro o maior desafio: fazer-me presente pela ausência; ser apenas massa espremida, encolhida, humilhada, esmagada, “num imundo cubículo onde mal caberiam...“

Interpretar aquele que nada é, é como andar cego num labirinto escuro, sem poder esbarrar nas paredes, nem fazer barulho. E é esta existência cega e silenciosa que cria o amálgama necessário pra lindeza que é o espetáculo; E que me desafia como intérprete a ser este ousado personagem.

Dizem algumas vertentes filosófico-religiosas que ao atingir a iluminação, o indivíduo deixa de ser uma identidade separada, o ego extingue-se e ele mergulha numa comunhão com o tudo; se calhar, o teatro está sendo um meu caminho pra iluminação.


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